terça-feira, 21 de junho de 2011

ARREGALARAM-SE-ME OS OLHOS DA ALMA.... sou MULHER!

 
         Deste lado da chuva embalo-me num adormecimento orgânico, quase sonâmbulo, que vagueia entre os acontecimentos de hoje, de ontem... do passar dos dias, de quase sempre. 
Questiono quase tudo, sem que o tudo interfira de forma castradora e consiga, deste lado da chuva, manter-me atenta, crítica, sagaz, fiel aos meus princípios, ideais, valores, morais, sociais e interrelacionais. Por vezes, quiçá vencida pelo cansaço, entrego-me de forma brejeira a decisões redondas, confusas, pouco consensuais - por vezes tocando o facilitismo das percepções. Sim, que aí, desse lado, o ruído atrapalha as leituras que a memória ousa em desafiar, ou que o raciocínio instiga a usar. 

          Hoje arregalaram-se-me os olhos da alma. 

          É já ponto assente que a mulher portuguesa, à semelhança do que acontece por essa Europa fora, contribui, cada vez mais, activa e eficazmente para o sistema económico e financeiro nacional. apesar de existirem, ainda, algumas empresas que evitam, determinantemente, contratar mulheres. À parte estes raros casos, é  frequente dirigirmo-nos a hospitais, consultórios, clínicas, escolas e outras entidades públicas, hotéis, cinemas, teatros, lojas ou supermercados, e sermos atendidos, medicados, ensinados ou recebidos por mulheres. Profissionais especializadas, ou não, nos mais diversos sectores da vida activa social e laboral, desempenham eficazmente, as funções que lhes são exigidas. Já nos habituámos a ver os mais diversos lugares de grande responsabilidade como presidências de juntas ou de autarquias, cargos ministeriais, direcções de empresas ou outras, a serem ocupados pelo sector feminino. Também na vida artística e cultural, a mulher tem um papel de relevo: actrizes, pianistas, cantoras, bailarinas, escultoras, pintoras, realizadoras, escritoras, entre outras, dão, através do seu trabalho, um contributo indispensável para a criação de uma identidade cultural, que nos caracteriza como um povo, com raízes e com história.
Quanta história foi escrita sobre histórias de mulheres, de sofrimento, de abnegação, de talento, de capacidade! 

Mas é preciso não esquecer que, na grande maioria dos casos, por detrás de cada mulher, está uma mãe. E esta mãe, quantas vezes terá abdicado do bem-estar da  sua família por causa de um trabalho de última hora? De um turno? De uma investigação ou de um espectáculo? De um reunião de direcção? Ou de um outro compromisso profissional, inadiável? Pois é...

A mãe trabalhadora é, actualmente, uma mãe sofredora. Mulher multi-facetada, lutando diariamente por um sucesso profissional, que muitas vezes nem alcança, e por um sucesso familiar, com tudo o que isso implica, onde os filhos acabam por ser  vítimas da sua ausência permanente.

Tudo começa na gravidez. A futura mãe vive sob pressão e não goza os prazeres e mudanças que esta nova fase da sua vida lhe oferece. Depois temos o parto e nada foi planeado dada a escassez de tempo, e as opções, da mais diversa ordem, o tipo de parto, a maternidade, etc., ficam restringidas a hipóteses de última hora, tomadas nos intervalos das contracções e dilatações, entre uma alegria e uma angústia, entre o medo e a expectativa. 

Após quatro meses de convívio e carinho materno, o bebé vê-se privado da sua progenitora e sente-a partilhada com outro alguém, invisível, constante, que a esgota e o priva da sua presença. E esta mãe vai ultrapassando obstáculos, vivendo o dia a dia, ano após ano, trocando o seu filho da Creche para o Jardim de infância, daqui para a Escola, inventa actividades e espaços para lá “depositar” a criança, de modo a que esta esteja ocupada, enquanto ela trabalha. À noite mal se vêem, ou se tocam, ou abraçam ou se beijam. E os carinhos passam a fazer parte de um tempo longínquo que já não volta...

De tempos a tempos, a mulher, mãe, olha para trás e vê tudo o que perdeu. Vê um jovem que não conhece, a quem privou da sua existência, e mais longe a criança, perdida no colo de uma educadora ou ama, de um avô, mas não no seu.
O homem de amanhã seria tão mais equilibrado, física, psíquica e emocionalmente, se hoje pudesse crescer junto da sua mãe! A sociedade em que vivemos, apesar de reconhecer que os seus filhos beneficiariam em ter as mães perto deles, contínua a não dar resposta a esta questão, limitando-se a arranjar pobres soluções, quando atribui como Licença de Maternidade quatro/cinco meses  de dispensa de trabalho.

Bem vistas as coisas, a mulher é de tal forma importante, de tal forma indispensável, que a própria sociedade prefere sacrificar os seus filhos, a abdicar da sua actividade produtiva.

 Grande MULHER!!!