quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

E a pele...de que cor é...?

A nossa sociedade, apesar do esforço da Escola, tende a projectar nas suas crianças estereótipos de todo o tipo, estigmas e comportamentos, que apenas revelam ignorância ou são, em grande parte, resultado de fobias generalizadas que se arrastam no tempo e sobrevivem até aos dias de hoje.

Uma delas, que vive no espaço escola e se arrasta para o recreio é a dicotomia "branco preto", normalmente suavizada com a expressão "de cor". 

A frase, "aquele menino de cor...", quase sempre me arranca a questão, "ai, mas há pessoas incolores?...Coitadas!", provocando, invariavelmente, muita confusão no contexto da conversa, esclarecendo-se quando remato com "é que eu não sou castanha como o chocolate de leite...mas incolor também não...e vocês?".

E a partir disto...viaja-se nas diferentes tonalidades da derme, brinca-se com as palavras e aproveita-se para trazer para a sala de aula o mundo plural, tal como ele deve ser visto e respeitado.

Hoje foi um dia assim...

Estavam os mais pequenitos a pintar um desenho de um rapaz de boné com uma bola debaixo do braço, depois de terem sido "massacrados" com a leitura do pequeno texto...auxiliados pelo 'Quadro Silábico', quando o Pedro me pergunta:

- Professora, pinto o menino de castanho...ou de cor de pele?

"Aqui vamos nós", pensei e perguntei-lhe qual era a diferença.

- Então...castanho...é castanho como as árvores....cor de pele é isto... - e levantou um lápis de um tom rosa pálido, feio...

O Hugo rematou:

- O Pedro quer saber se o menino é branco ou preto....é isso que ele quer saber. 

- De cor... não se diz preto! - avisou a Inês.

O Xavier, um dos miúdos mais calados que alguma vez conheci levantou-se...pegou na mão de um colega que é negro e, encostando-a ao seu estojo preto, gritou:

- Preto...É O MEU ESTOJO! A mão do Ricardo não é preta...é castanha...porque a pele dele é CASTANHA!...O castanho também é cor de pele, como é a cor dos olhos ou dos cabelos. - E sentou-se, atirando toda a sala para o silêncio que qualquer reflexão deverá sempre produzir.

E surgiram meninos de tantas cores...como as bolas que levavam debaixo dos braços.