quarta-feira, 2 de março de 2011

A ESCOLA TEM GENTE DENTRO... ainda.


Se há preocupações que, deste lado da chuva, persistem no tempo e me consternam com alguma frequência, a mais premente, acutilante e sempre actual é a Escola.  Se por um lado é representativa de saberes, vontades, ideias, paixões, por outro é o farol orientador, pólo de motivações, provocador de inovação, centro de recursos sempre actual, sempre novo, sempre impulsionador e sempre numa visão construtiva do futuro. Ou não.

Ou não, porque se assiste desde há algum tempo a uma trapalhada de decisões políticas, que contemplam quase de tudo, exceptuando a basilar temática: Educação.
Com a Revolução de Abril, a Educação viveu momentos de euforia seguindo-se-lhe o despoletar de intensos debates e mudanças. Os portugueses aperceberam-se que a Educação poderia constituir uma mais valia em qualquer processo de desenvolvimento e a ignorância prejudicava os valores democráticos.
Cortou-se com os valores anteriormente instituídos, reivindicou-se, protestou-se, defendeu-se uma Educação para todos e massificou-se o ensino. Pediram-se mudanças, propuseram-se mudanças, mudava-se todos os dias de forma espontânea nas escolas, desenvolveu-se o sentido da igualdade de oportunidades para todos, abriu-se a Escola à Comunidade e debateram-se os interesses da Educação com os pais, com as associações, com as autarquias, com os sindicatos, com diversos grupos sociais.
Em suma, sentia-se que a Escola aderia aos novos ventos, mas as mudanças desejadas, que deveriam caminhar no sentido do sucesso, assumiam-se lentas e não estavam livres de contradições. 
Alteraram-se os critérios de avaliação e procurou-se o sucesso escolar numa educação igual para todos. Mudaram-se os programas, promoveu-se uma certa pedagogia por objectivos, publicaram-se constantemente quantidades de material de apoio destinado a professores e a alunos, estruturou-se e reestruturou-se o sistema, definiu-se o perfil do aluno, restabeleceram-se os objectivos, sempre na prossecução da eficácia do ensino, mas sempre numa visão alucinada de uma eficiência homogénea, indefinida, ténue, vaga, indiferente.
A ideia de Escola para todos, a Escola Inclusiva, integradora, que se começou a desenhar nas últimas décadas do séc. XX, opôs-se à Escola provocadora de exclusão, a Escola do insucesso, do abandono.
Hoje, sinto que procuramos, desenfreadamente o retrocesso, o retorno aos "gloriosos" momentos  em que Escola era o meio ideal para seduzir e manipular crianças e jovens. 
A Escola colocada ao serviço do Estado. 

Deste lado da chuva, assusto-me quando ouço falar do fecho das escolas, quando leio sobre as alterações curriculares no ensino básico. Arrepio-me quando antevejo a redução dos conhecimentos curriculares a questões elementares da história e geografia de Portugal, enfatizando-se o ler, escrever e contar como a maior felicidade que o ensino poderá oferecer - à semelhança de tempos idos, onde o crucifixo vivia ladeado por dois ladrões, como disse um dia José Pacheco.
Como são novos alguns dos velhos problemas! Como são de todos os tempos as grandes inquietações da Educação! Os problemas ligados a fenómenos de exclusão social, como o insucesso educativo e o abandono precoce da Escola, continuam a constituir hoje as mais graves dificuldades do Sistema Educativo.
Deixem-se de contabilidades. Vamos a reflexões.
Lembrem-se que a Escola tem gente dentro!

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