quarta-feira, 25 de maio de 2011

...e chegámos até aqui...


 



"O mundo é perigoso não por causa daqueles que fazem o mal,
mas por causa daqueles que vêem e deixam o mal ser feito." (Albert Einstein)



  Deste lado da chuva começo a reparar a guerra do meu tempo, a guerra do nosso tempo, não está para acabar. Era isso o que eu vos queria dizer, desta vez. Compreendo agora melhor os contornos que a envolvem e os efeitos que a globalizam. Talvez se tenha tornado na síntese da grande conflitualidade que atravessa o Planeta, em todas as direcções. Talvez acabe por ser a Mundialização que se não deseja. 

A verdade é que já nada se circunscreve apenas ao conflito armado e muito menos ao limite do teatro de operações. Hoje as guerras, todas as guerras, correm o risco de serem totais e colocarem em crise não só os valores humanos mas as grandes contradições que para o bem ou para o mal aproximam ou afastam os homens. 

E será fundamental nunca esquecer que o homem construiu o mundo, que nós vamos todos os dias reconstruindo, assente em conhecimento e relações que alimentamos e desenvolvemos. No entanto, conforme Wittgenstein  “mesmo depois de serem respondidas todas as questões científicas possíveis, os problemas da vida permanecem completamente intactos”. Por isso é que as atitudes ganham tanta importância, por isso é que sem as alterarmos nenhuma mudança será produzida, por isso é que o acto educativo se torna fundamental e por isso, ainda, é preciso voltar à Escola. 

E quando se desenvolvem acontecimentos como os que assistimos esta semana (o vídeo que revela uma jovem a ser agredida por outras duas, perante uma vasta assistência), a temática EDUCAÇÃO corre na alma de toda a gente, vive em cada conversa, mora no quotidiano. E é à Escola que se vem pedir justificações, é para a Escola que as atenções se viram. 
 
De facto, em boa verdade, em todos os bancos de Escola há uma consciência por despertar, uma realidade por atingir, uma sociedade comum. A esses bancos há que levar a dimensão planetária das verdades, encarando a de todos não como absoluta mas como possível, respeitando a individualidade de cada um e abrindo as portas à solidariedade e à tolerância.

À Escola voltaremos sempre, no meio das nossas inquietações. É lá que as soluções terão que ser encontradas. É a referência de mudança positiva a que as sociedades recorrem quando as crises ameaçam colapsos sociais. A Escola aparece assim como a esperança do recomeço, a única que poderá apontar e garantir as condições de sobrevivência de uma sociedade assente em valores de tolerância, de solidariedade e de democracia. Não bastará nunca consumir teorias, aos profissionais de educação caberá o dever de se manterem actualizados sobre o mundo que os rodeia e construir uma visão crítica dos problemas com que a sociedade se confronta.

 Dos grandes aos pequenos conflitos, da identidade cultural à globalização, das grandes inquietações sobre a qualidade do ambiente ao fosso das relações Norte-Sul, de nada servirá conhecer os riscos se não aprendermos a estabelecer relações claras com os outros, relações de respeito, que ajudem a desmantelar mitos e apontem para um desenvolvimento equilibrado e justo. 

Infelizmente alguns equívocos têm conduzido países ou regiões a destacar contradições ideológicas, radicalizando posições e desenvolvendo políticas desastrosas que atingem globalmente todas as sociedades.  Tenta-se, agora, controlar a violência. No entanto, este controle “complica-se até ao infinito, as suas formas manifestam-se em toda a sua diversidade e instabilidade. Entres os bandos de marginais e os exércitos dos Estados, as estruturas intermédias e mutáveis proliferam”[1]. E, no entanto, estas situações são tão mais graves quanto todos nós sabemos como isso poderia ser evitado. Desde o conjunto das Nações a vozes que bradaram no deserto, muitos foram os que condenaram e divulgaram a desgraça anunciada. Olhe-se agora para as crianças, vejam-se agora os nossos jovens. 

Não pretendo apontar soluções, nem de todo colocar o dedo em feridas abertas... pretendo antes sensibilizar esse lado da chuva, expor algumas das minhas reflexões, acordar diferentes consciências.
 


[1]DEFARGES, Philippe Moreau – A mundialização: o fim das fronteiras?, 1997,  p.132
 

 

 

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