quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Quase que poderia falar de tudo...

Ouve-se por aí, entre pingos de chuva, que o sr. Presidente da República falou ao país.

Não me debruçarei sobre isto, já que tão pouco haverá a dizer...a escrever...ou a reflectir. Outra vez a contra-dança dos infelizes, o insucesso de muitos e o esforço de poucos, que se traduzirá no abuso de milhares.

Sossegadamente observo o tímido arranque do ano.

O aumento dos preços e a forma como cada um de nós quase paga para ir trabalhar. O medo. Sim, o medo que assola a nossa casa durante a noite, quando os sonhos nem chegam no momento de dormir e as contas de subtrair nos invadem o descanso.

A tímida tristeza. Aquela que todos nós tentamos disfarçar no momento em que se deseja bom ano aos transeuntes. A mesma a quem sussurramos palavras de ordem, mordiscadas pela revolta e pela assumpção de uma culpa encapuçada. Imposta.

A solidariedade crescente. Aquela que querem revestir de assistencialismo, a tal que querem matar e dar-lhe ênfase de caridade, remetendo-a para o acesso limitado, escondendo-a entre escalões e classes e capacidades e dinheiros. Mas aquela que não conseguirão calar. Que a solidariedade é a procura e o respeito da dignidade individual, já o gritava Du Nouy, reclamando mesmo que não existira outra via. E gritarei eu, nem que me obriguem a gatinhar para fora da chuva, rastejando na terra ardente.

As crianças.

As crianças, repito. Que delas e por elas quase poderia falar de tudo...

As crianças. Aquelas que sorvem com os olhos e o coração da consciência que é a sua inocência tudo o que a sociedade lhes oferece. Mesmo que seja um presente envenenado.

As crianças... Que delas e por elas quase poderia falar de tudo.

E mais já nem consigo escrever.


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