Era um grupo enorme...discutia-se a vida.
Aproximei-me devagar...como quem gosta de ler as conversas da gente pequena que é, regra geral, grande nos sentimentos, na justeza, na clarificação.
"O João gosta dela...mas ela não gosta dele. E ele é giro!"
"Ela é paneleira....só pode..."
Toda a gente deitou as mãos à boca e os pés tremeram de ansiedade, muito por me verem ali.
- O que é "paneleira"? - perguntei em jeito de provocação...
As caras coravam...e o cheiro a manteiga que ainda tinham nas mãos tomava conta daquele espaço de corredor, o autêntico "corredor da má língua" que as línguas mais aguçadas adoram explorar.
- Então...? - invocava eu, com o ar de quem não sabe mesmo nada sobre qualquer assunto que ao coração e ao corpo diga respeito.
"Paneleira é uma mulher que faz panelas....acho eu...", sussurrou cheia de medo a mais pequenina que ali estava...e que trazia calçadas umas socas de tacão para ficar do tamanho da amiga.
- Hum...pode ser, pode... mas então, quem é que faz panelas aqui no ATL?
Risos e mais risos...muitas gargalhadas coloridas e a cara mais redonda que eu já vi, toda salpicada de sardas, disse-me em tom de malícia...
"Oh Andrea..., paneleira é uma rapariga que gosta de outra rapariga... Não sabias?"
- Hum.........não não sabia. Sei sim que é uma rapariga que faz panelas ou lava-as... mas... ainda assim...se fosse uma rapariga que gosta de raparigas, onde estava o problema? Isso é que eu não entendo...
Encolheram os ombros... e o António desabafou enfim... "porque não se está à espera, só isso... Não se está à espera..."
E, de facto, essa é a razão... não é socialmente expectável e aceite. Até que os tempos mudem, até que as mentalidades evoluam.
O que aconteceu depois guardo para mim...que deste lado da chuva gosto de reservar algumas delícias para vos contar mais tarde.
"O outro lado da chuva...pode ser o melhor ponto de vista!"
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