Ontem soube-me a muito, sim...quase como reza o poeta.
Irromperam sala dentro aos empurrões e aos gritinhos, que teria de ir lá abaixo...que a Joana estava a chorar. "E muito, digo-te já!".
Lá fui...acalmando os ânimos que isto de ser ambulância em hora de intervalo tem que se lhe diga.
Acerquei-me da garota, que já tinha enxugado as lágrimas, mas que quando me viu decidiu prolongar o "sofrimento" imenso, esgotado num drama quotidiano de um qualquer intervalo escolar.
"Oh querida...que se passou?". Encolhidos os ombros...deu-se a sequela dos abraços. Dos beijinhos.
"Estou cheia de vergonha...podemos falar noutro sítio?" - alarme, meu. Alto, se é para falar em privado...há que afastar as "comadres e compadres" que nem personagens novelescas vão rodeando a protagonista da estória.
"Muito bem, gente linda...agora vou conversar com a Joana, vão lá brincar. Obrigada!". Seguimos caminho.
"Podes trazer a Mariana, ela pode explicar melhor se eu começar a chorar". Que sim, chamei a amiga.
No gabinete, sentadas lado a lado...começaram num queixume atirando toda a responsabilidade daquele estado de alma para um grupo de três.
Uma atiçaria. Os outros ririam.
"Mas que se passou concretamente?", ia eu passando o lenço pela cara.
A Mariana, despachada, muito arisca e sempre de resposta pronta, esclareceu-me de imediato:
- Olha, Andrea, coisas parvas e mal educadas. Imagina só...que não só poderiam ficar por uma ofensa...que avançaram duas! Uma - abriu os olhos - é...que a Joana era prostituta, mas pior...é que diziam que ela é da avenida...das vinhetas mal batidas!!!
A gargalhada que senti invadir-me o corpo foi tal...que pensei que o meu coração pararia a travá-la.
Perguntei-lhes se entendiam o que seria...já que eu não estava a perceber.
"Oh...entender não entendemos...mas quando a coisa é mal feita, mal batida, Andrea, não há-de ser coisa boa!!!".
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