sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Que o sangue aqui conta tão pouco...

"A família é como a varíola: tem-se quando se é criança e fica-se marcado para o resto da vida." 
( Jean-Paul Sartre )


Desde que me conheço, sei-me incluída numa estrutura basilar, aquela que sustenta valores e princípios que me norteiam, aquela que me acompanha a cada passo que dou, aquela que esgrime comigo argumentos, escolhas, caminhos, erros - a família.
Costumo dizer que hoje poderia ser o que quer que fosse, mas não seria nunca a pessoa que sou, sem a minha família. É uma marca. É um emblema. E é, indubitavelmente, a grande paixão.
Deste lado da chuva não pretendo enunciar formatos de famílias, tipos, géneros, modelos ou dinâmicas. Não quero de todo formatar ideias ou definir conceitos, não só porque isso merece uma reflexão profunda, digna de tese de doutoramento, mas porque desejo debruçar-me sobre a temática de modo leve, pouco profundo e tão aberto, que cada qual que por aqui passe, perdido em leituras, possa encontrar um pouco de si.
A família cresce no berço, desenvolve-se à mesa, no colo, nos segredos partilhados, no carinho, no amor – há toda uma sociedade nas pessoas que compõem um grupo de pertença – a família. Cada um assume o seu papel, todos o reconhecem, todos o respeitam. Mas atrevo-me, deste lado da chuva, a dizer mais. Desengane-se quem acredita que tudo depende da mãe ou do pai, apenas, ou que a família se resume a quem tem o sangue de seu sangue.
Existem bases, raízes, que se enterram chão fora até ao infinito, que quebram barreiras e se desenvolvem nas consciências e no coração, que largam saudades, que semeiam inter-ajuda, solidariedade, força, pó, suor e lágrimas. Existem raízes que ganham nomes de tios e tias, de primos, de irmãos... e essas são fortificadas pelo tempo, pelo respeito, pela ternura.
O sangue não goteja nestas raízes. O sangue não tem voz. O coração sim.
Por ele, pelo coração, pelas raízes que a minha família tece, pela capacidade de dar a mão...sou hoje mais irmã, mais tia, mais amiga.
Que o sangue vale pela sua cor.
Que o sangue aqui conta tão pouco.
À nossa!

(...à minha família linda, ao Ricardo... por tudo o que tu sabes.)

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