domingo, 11 de dezembro de 2011

Não gosto do Natal

"Eu não gosto do Natal!"


E gelou-se a sala.

Mudo ficou quem de direito, continuando a mexer nas suas coisas...até que voltou a declarar:

- É sobre isso que vou escrever o meu texto livre... sobre o Natal..., como não gosto nada do Natal!

Arrisquei a pergunta que todos quereriam fazer, "Mas porquê? De que não gostas tu?" - apoiando os cotovelos na mesa e o queixo nas mãos, em jeito de quem está verdadeiramente interessada na explicação do pequenote.

Os olhos dele perderam o brilho e com a carita meio encostada ao peito suspirou que não gostava de prendas, gostava de brinquedos, mas de ser ele a comprá-los... "agora aquilo que recebo..., foi assim que descobri que o Pai Natal não existia. Porque professora, todos pedimos as mesmas coisas e só alguns é que as ganham... o Pai Natal não fazia uma coisa destas, não é?"... e continuou, fitando os outros, dizendo-lhes que gostava era das renas... que elas voavam que era um espectáculo!

E abateu-se sobre mim o peso da responsabilidade da gestão da fantasia...e da realidade. Aquela criança não acredita no Pai Natal, mas acredita em renas voadoras? Não gosta do Natal...porque não gosta de receber presentes, já que estes, consigo adivinhar, não deverão corresponder em NADA às expectativas dele, mas serão reflexo das reduzidas possibilidades económicas dos pais. Mais...o conceito de época natalícia que este miúdo domina, está reduzido a uma pobre troca de prendas. Não se pronunciou à partilha com a família, ao aconchego daquela noite, às brincadeiras com primos e primas...não. Isso nem deverá existir. E essa será a maior tristeza de todas. Que em boa verdade, deste lado da chuva, o que recordo das noites de consoada, não são os presentes da meia-noite, nem sei se teria muitos ou poucos, mas sim os momentos em que todos nos reuníamos, em que a lareira deitava um fogo mais vivo, em que existia um brilho diferente no olhar de cada um, em que podíamos brincar todos juntos, em que valores fundamentais como o respeito, a compaixão, a tolerância, a solidariedade, eram vividos, sentidos, revelados.

"Tu gostas das renas?" - perguntei a medo... que sim, que sabia o nome de todas! Que a rena Rudolfo era a mais especial, já que trazia luz na ponta do nariz...e guiava o trenó pela noite fora. Os outros riram-se e alguns atreveram-se a dizer que isso não existia. Virou-se para mim, questionando-me com o olhar...
"Pois eu acredito que tudo isto existe...acredito porque sei que o importante é que alguém acredite e mantenha a fantasia viva. Quanto aos presentes...não sei se são importantes...que eu nem me lembro do que recebi quando era criança...mas lembro-me muito bem de uma noite de Natal ter visto um rasto vermelho no céu... e quase jurar que tinha visto um trenó! Isso lembro-me bem!"... 

Sorriram... o pequeno abriu o caderno e começou a escrever...

 "Sou um menino diferente. Eu não gosto do Natal...mas gosto muito das renas."


P.S. - Não sei se existe o Natal ideal, mas acredito que o verdadeiro Natal possa ser aquele que cada um de nós decida criar como reflexo dos seus valores, desejos e tradições. Mantenhamos assim o Natal como a força interior que simplifica a vida até ao infinito e que, num turbilhão de emoções, impulsiona novos sonhos, novas conquistas, uma sociedade mais íntegra, mais humana, mais feliz.


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