domingo, 30 de outubro de 2011

...a vida num copo de água...

Sei que a água é temática para múltiplas reflexões, que encerra em si qualidades que beneficiam em muito a saúde física, que assume neste canto a forma de chuva, procurando revelar verdades, ocultar segredos, soltar gritos mudos... sei que a água é vida.

E a minha vida assumiu novos contornos quando decidi, em conjunto com as minhas crianças, trazer para casa um aquário... a vida em água... literalmente.

Tudo começou na visita a uma loja especializada em aquariofilia... - a minha ideia teria que ver com um globo dos antigos, um peixe e uma latinha de alimento para o ser. Inocente que me revelaria... - saí da loja com um kit completo composto por um aquário (paralelepípedo) de 20L, uma bomba de filtragem, uma árvore de plástico (feia.... como qualquer planta de plástico pode ser), alimento, areia... e um vale para comprar peixinhos no mínimo dali a 5 dias (que a água teria de ser limpa de cloro e estabilizado o PH, antes de lá ser colocado fosse que peixe fosse). Dez minutos passados, depois de uma choradeira com direito a ranho e protestos veementes por parte da mais pequena, "que tínhamos vindo comprar peixes e que apenas levávamos aquário", abandonámos a loja. Até ao carro, choro. No carro, choro. Explicação, com linguagem gestual recorrendo a sons animados, divertidos. Continuação de choro. Um grito e tudo ficou esclarecido, entendido, seco.

Em casa atirei-me a leituras, como colocar a areia, o filtro, a árvore... o que fazer ao líquido cuja função seria a de purificar a água, os truques, as regras, a confusão... e o jantar para fazer. As reivindicações da fome, as perguntas sobre o quando será possível, os dias que faltam, os planos adiados.

Cinco dias depois... voltámos à loja munidos de um talão de desconto e saímos de lá com quatro peixes de água fria, todos diferentes, todos prontos a uma aventura num aquário, todos com um nome, todos com uma história inventada.


Dei o pontapé de saída para uma vida de gastos e desperdícios que parecem não acabar... que os castelinhos são lindos, que há vitaminas essenciais, que na volta será melhor arranjar uma pedra, que as plantas naturais são mais bonitas... que outros peixes dão muita vida... ...que cada coisa destas pinga no orçamento familiar... no entanto...deste lado da chuva deixo-me embalar no conforto, enrosco-me no meu canto e sustenho a respiração da vida num copo de água... a felicidade também está ali.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

...ele há coisas...

Diz que ele há coisas que se aprofundam na alma...e se tornam o lado obscuro do ser. Nem sei se acredite, se averigúe, se procure entender... No entanto, é verdade que sinto existirem recantos de nós que tentamos esquecer, ou esconder, recalcar, tapar, abafar. Deste lado da chuva tento, com relativa frequência, iluminar esses espaços escuros que há em mim, tomar-lhes o peso, lê-los, cheirá-los, medi-los, saber-lhes de cor o sabor - nunca os entendi ou resolvi ou, sequer, assumi... mas gosto de os deixar ali como os segredos que nem ao espelho deveriam ser pensados, quanto mais, proferidos.

E assim os assumo. Os reconheço. Os enfrento. (ou penso que faço)

Mas ele há coisas que rasgam a carne e agarram o coração com o punho fechado, sacudindo a pele e a emoção... retirando o chão e sustendo o ar - por breves minutos a morte sopra-nos nos ouvidos, cada segredo ganha vida e corre-nos nas veias, no suor, na memória. Desejamos voltar atrás, suplicamos mais um tempo, corrigimos prioridades. (sorvemos os minutos como nunca)

Nada mais é igual a ontem.

Hoje celebro o prazer da escrita e da partilha.

Que bom.


(Para a Florbela, a D. Dina e a D. Lourdes, por tanto que aprendi convosco. Obrigada)