quarta-feira, 29 de maio de 2013

A casa de banho, as partilhas, ajudas e outros acontecimentos!"

A chuva tem corrido rios e mares de turbulência feroz. Tem atingido, física ou metaforicamente, gente, muita gente. Gente em forma de pessoas verdadeiras. Daquelas que choram e riem, que se alimentam, ou não, que suam o seu trabalho ou a sua ausência. Pessoas reais. Aquelas que existem...mas que para quem governa o destino deste país são apenas números. Números que não representam famílias ou sacrifícios (a não ser que seja importante que se assumam assim... e se assim for...lá teremos um qualquer importante membro de governo com a cabeça enfiada num boné a cumprimentar...essa gente).

A chuva tem corrido rios e mares e eu tenho estado a observar. Muitas vezes a tentar salvar da água aquela gente que sinto poder ajudar. Vidas. Desafios. Glórias.

Hoje chegou o sol. As crianças ganharam cores de liberdade e vinham mais cheias. Mais abertas. Mais reveladoras.

O André estava na casa de banho com as muletas do Jaime. Estava a ajudar o amigo que partiu uma perna e que tentava lavar as mãos. É claro que umas muletas ali à mercê...é coisa para se aproveitar, tendo em conta que não é todos os dias que se pode usufruir de umas muletas, gozando de plena saúde física!

Muito rodava a muleta e usava ambas para desafiar saltos e metas improváveis estipuladas de si para si.

"Que estás tu a fazer com as muletas, rapaz?" - que estava a ajudar o Jaime!

Lógico...pensei eu, excelente resposta.

"Ele estava era a portar-se mal!" - disse uma voz aguda que entretanto se ajoelhara aos meus pés, à porta da casa de banho dos rapazes e espreitava com os olhos muito abertos.

"Mas ele porta-se mal?" - perguntei...e olhei de imediato para o Jaime que continuava a lavar as mãos como se estivesse numa realidade paralela...e nada daquilo fosse com ele.

"Ui!...Ui, ui!" - disse a voz...cuja dona era uma miúda que tem duas luas no lugar dos olhos...e um sol como sorriso.

Desatei a rir à gargalhada e ela continuou:

"Sabes...este rapaz... Já foi meu namorado. Mas agora...namora com a irmã da minha melhor amiga. Hum hum..."

Olhei para o André...estava todo corado, muito comprometido na sua posição de "ajudante da muleta" e algo envergonhado por estar a ver a sua vida sentimental...ali toda desventrada em plena casa de banho!

Dei um passo no sentido do miúdo, o Jaime levantou o olhar e começou a retirar toalhetes para enxugar as mãos....como se não houvesse amanhã, enquanto o André...corava e espantava-se com aquele disparate de emoção...

"Como se chama a tua namorada, irmã da melhor amiga....aqui da Carolina?"

"Manuela" - quase sussurrou...

"Manuela?!? AI QUE NOME TÃO GIRO! Gosto muito! Boa escolha..."

Foi um alívio...para o André, cuja namorada foi honrada até ao fim do mundo, para o Jaime, cujas mãos ficaram lavadas e enxugadas por um mês ou mais...e para mim, que ganhei o dia com a revelação amorosa e com a simplicidade do momento.

A Carolina? Seguiu o seu caminho que tinha uma corda para ir abanar e saltar todo um abecedário! E "a casa de banho é lá sítio para se estar a conversar?"...


domingo, 5 de maio de 2013

Se a virem por aí,...ponham-se de pé e expludam numa salva de palmas.

Há paixões que se iniciam no primeiro grito de vida e perduram...até ao infinito. Não são os momentos de prova, de provação, mas a incondicionalidade do amor, o caminho que se leva de mão dadas, o modo como se orientam escolhas ou se as colocam em relação. Há pessoas mágicas e magias que se transformam em pessoas. Com a minha mãe é assim.

Não existem palavras suficientes que a descrevam...ou pelo menos que a elogiem quanto baste, que a recompensem por cada sacrifício, que a abracem nos momentos em que se reconhece o valor que tem. Não existem sorrisos que preencham os espaços vazios, nem agradecimentos que encham os dias de sol, de chuva, de trovoada, de vento. Não consigo encontrar o caminho para descrever cada traço da sua cara e cada brilho do olhar, cada palavra de alento, cada gesto de apoio. Por vezes questiono a sua força interminável e a capacidade de abnegação, o sulco das lágrimas de emoção e a gargalhada solta. Outras vezes...limito-me a pensar: É a minha mãe! É ela e só isto basta.

Poderia enunciar aqui um sem número de pequenos detalhes que a ligam a mim...ou que me ligam a ela, mas em cada momento sei-me a sorrir e a pensar nos milhares de segredos e partilhas que não quero escrever, que pretendo guardar para sempre naqueles que são os recursos pessoais e invioláveis que cada uma de nós tem para si, o coração e a memória. Cada momento com a minha mãe...é uma memória vitalizante. Única. Nossa.

Não existem palavras que a descrevam...mas posso dizer-vos que sempre se assumiu como guerreira, lutadora, educadora, amiga, médica, curandeira, enfermeira, palhaça, animadora, confidente, advogada, decoradora, arquitecta, jardineira, cozinheira, costureira, bailarina, actriz, motorista, malabarista, trapezista. 


É a minha mãe, só isto basta. Se a virem por aí, ...ponham-se de pé e expludam numa salva de palmas. 

O beijo, dou-lho eu.