A morte de um filho não é natural. Nunca o será...por mais que o mundo se justifique, as chuvas parem de cair, o sol arrede terras de argumentos.
A morte de um filho é o princípio de outra dimensão. De um outro estado de alma. De sobrevivência.
Ontem vi a mãe de um filho que partiu.
E vi nela o que vejo sempre nas mulheres cujo infortúnio é este. O vazio. O vazio de um todo.
Como se do corpo de mulher existisse NADA. Nada de vida, nada de ar, nada de sangue, nada de carne, nada de entranhas, de cheiros, de sabores. Só dor. Só vazio. Só silêncio. E água.
Trazia o corpo pendurado entre si mesmo, na sombra da mulher forte, viva, lutadora que foi. Na sombra da alegria que transbordava, do grito aberto, da gargalhada solta.
Trazia o corpo dilacerado. Os olhos inundados de gritos mudos. O peito esburacado. E água.
Ofereceu-me a água dos olhos como se de chuva se tratasse e eu deixei-me molhar num abraço.
Aquele abraço de mães cúmplices. Aquele que por mais força que se faça, por mais dentes que se cerrem, por mais palavras que se sussurrem, não se arrepia o vazio, não se alicerça a dor, não se regressa da dimensão nova.
O imenso silêncio.
E assim continuou...pendurada entre si mesmo, sorvendo da mágoa imensa o olhar caído, arrastando consigo um luto...o primeiro passo de uma outra vida.