quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

A vida como ela é...ou deveria de ser.

Hoje caiu-me no colo uma notícia.
Parecia quase como uma mensagem de esperança, uma forma de dizer...ainda se consegue, tu também estás no bom caminho, não desistas de lutar pelo que acreditas.

Sai desse lado da chuva. Fala.

Acordei com uma lufada de ar fresco, com uma mão cheia de valores humanos, pedagógicos, de relação, que raramente vejo reflectidos nas paredes de uma escola. E raramente é muito pouco. 

Aqui está uma prova, clara e simples, que aprender transcende a sua própria definição. É mais do que adquirir conhecimentos, é mais do que desenvolver competências, é mais do que somar saberes.

E ensinar, também.

Nada nem ninguém vive isoladamente. Cada Escola, cada Professor, cada aluno, cada contexto educativo, estará sempre ligado ao que acontece à sua volta, dependerá de uma qualquer convergência, tenderá a seguir a moda que se agiganta. É a vida como ela é...ou deveria de ser.

Resta-me uma última palavra ao meu colega professor, ao meu par que nunca conheci mas por quem tenho profunda admiração, ao Ali Mohammadian, muito obrigada.

Não vos prendo por mais tempo. Emocionem-se...vistam a camisola do que acreditam. Lutem.



segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

O trabalho

"Que tens tu?"

Estava triste o miúdo, encostado à parede parecia perdido em reflexões...

Levantou o olhar, encolheu os ombros, sorriu de lado e abanou a cabeça. - Reconheço em cada canto a profundeza dos sentimentos tristes de quem não consegue entender o mundo complexo dos adultos, que deste lado da chuva nunca um príncipe pequeno de um mundo distante foi esquecido...ou abandonado.

"Eh miúdo giro, que tens tu?...", última tentativa...mas se ele andava por ali a recostar-se...de certo que me quereria algo.

"Estou preocupado porque a avó diz que a mãe também deve perder emprego, o pai já não trabalha há muito tempo, os tios também não... A avó Bela diz que não há trabalho...mas eu nem noto isso, que que cada vez trago mais trabalhos de casa e a professora quando se zanga, também diz que a minha turma é uma trabalheira... A ti vejo-te a andar de um lado para o outro...às vezes a correr,cá para mim...aqui é que está o trabalhinho todo e os do governo não sabem! Não é, Andrea?"

O resto da conversa fica presa nas gotas de chuva e nas partilhas iguais que em seguida proporcionaram. O meu pequeno príncipe precisava de colo, de falar, de ouvir e de um mimo especial, nosso.

Mas deu trabalho...

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Dia de limpezas

Bateu à porta e pediu para entrar... Anuí e sorri-lhe como faço sempre. Correu na minha direcção e abraçou-me, levantou a cabeça e disse:

- Sabes o papel dos piolhos? Aquele que enviaste para casa...sabes?

No dia anterior havia escrito uma comunicação para as famílias, no sentido de as alertar para a limpeza da cabeça das crianças, tendo em conta os casos de piolhos e umas queixas levadas a cabo por alguns encarregados de educação. Deste lado da chuva tratam-se as coisas pelos nomes....e isto de andarmos a utilizar as denominações científicas para tocar num assunto tão real e tão conhecido, aborrece-me! PIOLHOS! É assim o nome que toda a gente conhece, ataca tudo o que é cabeça...mais limpa ou menos limpa...e tem de ser tratado! Claro que não redigi o texto assim...mas seria fundamental que  se lhe desse a importância desejada. Muita!

Disse-lhe que sim, que me lembrava perfeitamente do papel...

- Pois...com este cabelinho raso, piolhos não tenho, tenho é cera nos ouvidos. Mas a mãe não tem coragem para limpá-los sem cotonetes e a avó nem vê bem. E eu pensei que tu pudesses ajudar-me. Olha!

Virou-se e mostrou-me as orelhas, sendo que com o dedito ia puxando e repuxando para que confirmasse o estado em que aquilo se apresentava...

- Podes limpar-me isto? Senão ainda me gozam mais na escola...e eu acho que me engano muitas vezes nos ditados por não ouvir bem a professora a dizer as palavras.

Abraço forte, um sorriso...e expliquei-lhe que não ia mexer com cotonetes, mas que lhe limpava tudo com umas toalhitas especiais que tinha comigo.

- Ah, Andrea...que bom!!! É que hoje vou dar fé de tudo!