O João não vinha à escola fazia algum tempo...havia sido escolha dos pais, da psicóloga e até da equipa pedagógica, tendo em conta os recentes acontecimentos que denotavam alguma violência e poderiam colocar em risco outros actores do processo de aprendizagem, social e escolar. Foi uma decisão consensual, discutida e reflectida...e seguia no sentido dos superiores interesses da criança, que deste lado da chuva acompanhei de forma atenta e preocupada...não fosse qualquer catraio o foco de quase toda a minha atenção. Traçou-se um plano...preparou-se o regresso do João...e no dia marcado, chegou.
Trazia o dourado dos cabelos ainda mais dourado e o azul dos olhos ainda mais azul. Dou de barato que fossem as minhas saudades, mas a falta que lhe senti fez com que o meu olhar se prendesse nos seus caracóis, no sorriso rasgado e na forma como disfarça a felicidade de se saber acarinhado. Vinha calmo e sabia-lo saudoso, cheio de vontade de voltar, pronto.
Foi recebido da forma acordada e sempre controlado pela equipa, nomeadamente nas suas acções na relação com os outros...criando-se espaços próprios de interacção, sempre seguido por todos os adultos, não fosse o João agir de forma violenta, prejudicando a sua reintegração.
Passaram-se três dias...e o espaço de convívio do João resumia-se a todo um enquadramento estruturado e planeado, rigorosamente seguido, onde existia pouco espaço para a espontaneidade da chuva de afectos que se costuma proporcionar.
No último dia o João chegou...só ainda estava a Rita na sala, para além das responsáveis. Ele entrou, sorriu, correu para o tapete, como era seu hábito, e esperou pelo momento de partilha que aquele pedaço de pano proporciona. Não estava previsto que o João iniciasse assim o seu dia, mas a Educadora...não teve coragem de o retirar do tapete e continuou a calorosa recepção a todos os outros.
De repente corria uma copiosa chuva de lágrimas dos olhos da Rita, que soluçava de forma tão forte que toda a gente olhou para o João, receando o pior...mas ali permanecia ele...sossegado fixando, muito intrigado, a menina.
"Que se passa, Rita?"
A menina acentuou o choro...curvou-se para a frente, apoiou os braços nos joelhos e a carinha nas mãos...
"Queres falar, Rita?....Chora que nós esperamos..."
Levantou a cabeça, olhou para a Educadora e disse:
- Tenho tantas saudades do João... - virou-se para o miúdo - Tenho tantas saudades tuas...
E a água da chuva inundou a sala!
Dos olhos rasos de emoção, corriam rios de amizade pura, capazes de ultrapassar todas as regras e dinâmicas que as equipas de gente crescida possam desenhar, para todas as crianças do mundo.
Inundou-se a sala com a palavra mais pura, falada a partir do coração e gritada no abraço que a Rita queria dar ao João.
Inundou-se a sala de reforços positivos, de amor, de amizade, de carinho.
Inundou-se o João com tanto de cada um de nós...que ele parecia do tamanho de todos os sonhos que encerram a sua pequena mão. O coração acusou o toque e o rubor das faces esboçou uma gargalhada!
E a água da chuva uniu-se para esbater o muro de medo que nós adultos tão bem erguemos...e revelar que a famosa frase de Quintana, "a amizade é um amor que nunca morre", adoça todo o bolo dos afectos.
Em boa verdade te segredo, meu querido João..., também tinha saudades tuas.
De repente corria uma copiosa chuva de lágrimas dos olhos da Rita, que soluçava de forma tão forte que toda a gente olhou para o João, receando o pior...mas ali permanecia ele...sossegado fixando, muito intrigado, a menina.
"Que se passa, Rita?"
A menina acentuou o choro...curvou-se para a frente, apoiou os braços nos joelhos e a carinha nas mãos...
"Queres falar, Rita?....Chora que nós esperamos..."
Levantou a cabeça, olhou para a Educadora e disse:
- Tenho tantas saudades do João... - virou-se para o miúdo - Tenho tantas saudades tuas...
E a água da chuva inundou a sala!
Dos olhos rasos de emoção, corriam rios de amizade pura, capazes de ultrapassar todas as regras e dinâmicas que as equipas de gente crescida possam desenhar, para todas as crianças do mundo.
Inundou-se a sala com a palavra mais pura, falada a partir do coração e gritada no abraço que a Rita queria dar ao João.
Inundou-se a sala de reforços positivos, de amor, de amizade, de carinho.
Inundou-se o João com tanto de cada um de nós...que ele parecia do tamanho de todos os sonhos que encerram a sua pequena mão. O coração acusou o toque e o rubor das faces esboçou uma gargalhada!
E a água da chuva uniu-se para esbater o muro de medo que nós adultos tão bem erguemos...e revelar que a famosa frase de Quintana, "a amizade é um amor que nunca morre", adoça todo o bolo dos afectos.
Em boa verdade te segredo, meu querido João..., também tinha saudades tuas.