segunda-feira, 19 de março de 2012

...o Pai...

Há tanto que não me partilho aqui, que não me revelo a meias, que não amasso reflexões... se bem que a chuva tenha sido intensa, ou o calor do corpo tenha vindo a arrastar-me nas horas do dia.

Hoje regresso...que a chuva da alma foi mais forte.

Entrou na sala quase como de costume. O cabelo em perfeito desalinho, os atacadores soltos...os pés a arrastarem o peso dos seus nove anitos, o sorriso a fugir-lhe pelo lado direito do lábio.

Entrou sem óculos e com a prenda do Dia do Pai na mão - aquela que espelha o amor incondicional e dá forma aos sentidos e sentimentos lambuzados.

"Onde tens os óculos, Catarina?", que não tinha...que se havia partido uma lente...

"Mas ontem? Oh que pena.... e olha...que tens na cara?"

"Aqui?" - levou a mão direita à face - "não sei...deve ter sido ontem, também... O meu pai deu-me uma chapada. Hoje vai correr tudo bem...já lhe fiz esta prenda e tudo."

Estava toda arranhada junto ao olho...com uma nódoa negra enorme e com a vergonha que caracteriza toda a criança que é maltratada com frequência.

Baixou os olhos, corou e voltou a repetir..."hoje vai ser melhor...que vai receber uma prenda minha...".

E eu abracei-a, no abraço dos que se dividem e segredam. E revoltei-me, na revolta dos mortais que não entendem a agressão como meio ou fim. E chorei o silêncio que ficou quando saiu e me atirou o mais terno dos beijos.

"É na educação dos filhos que se revelam as virtudes dos pais." (Coelho Neto)