sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

A felicidade do que há-de vir...

"Nunca ninguém conseguirá ir ao fundo de um riso de criança."
( Victor Hugo ) 


E hoje havia um sorriso nervoso que se assumia inteiro e dominava aquele espaço. Dominaria sempre, fosse ele enorme, fosse demasiado pequeno. O sorriso estendia-se à irrequieta forma de estar, alargava-se aos olhos e corria transparente pelo corpo. Parecia a excitação de um dia de Natal...ou de um dia de aniversário...ou de um dia de regresso, de partida, de novidade.

"Que inquietação, Catarina... Corres de um lado para o outro...até parece que este corredor não te chega...miúda!" - fez-se uma pausa...não muito longa...e a gargalhada soltou-se-lhe da alma.

- Então, estou assim hoje! 

E lá continuou no ensejo de uma dança, cantarolando qualquer coisa que nem percebi bem...mas rodopiando sempre por ali, naquele corredor.

"Catarina, porque não vais lá para fora brincar, querida? Sabes bem...que estes corredores não são sítios para as crianças andarem a correr. Aqui...é onde estão os adultos, com os assuntos aborrecidos."

- Não, Andrea...tu não sabes as coisas que às vezes se fazem aqui... - soltou um sorriso largo.

"Não?... Conta lá, para me pôr a par! Vais ganhar um presente, é isso?" - sentei-me numa das poltronas da zona de espera, cruzei a perna, apoiei a cabeça na mão e ensaiei o ar de pessoa que está mesmo muito interessada na revelação que se seguiria.

A miúda, ajeitou a franja com a mão esquerda..., limpou a testa em toque de preparação para a revelação, olhou para ambos os lados...aproximou-se de mim...e sussurrou:

- Hoje já devemos jantar...que a minha mãe está lá dentro - apontando para um dos gabinetes - para receber a comida que o ATL dá aos adultos, sabes?... - Iluminou-se toda como um raio de luz e perdeu-se no enorme sorriso. Continuou a cantoria e os saltos pelo corredor. Espreitando a porta, ansiosa.

Eu ali fiquei sentada, enterrada na poltrona que me parecia engolir. Não precisei de ensaiar mais o ar de pessoa interessada, que o peso da realidade escondida tomou conta de mim. E ali permaneci, presa na redutora interpretação daquela felicidade verdadeira, limitada por um sorriso nervoso...e pelo sofrimento de quem espera o que há-de vir (a comer).