É um lugar comum assumir-se que as relações interpessoais poderão ser complicadas, sensíveis, susceptíveis, frágeis, tumultuosas, apaixonantes. Poderia mesmo enunciar uma quantidade de exemplos, tão palpáveis quanto memoráveis e que seriam aceites sem levantar qualquer dúvida.
Há, contudo, uma relação interpessoal que se apresenta como cristalina, intensa, visceral e intelectual, com intenção, com conteúdo, com âmago – a relação pedagógica!
A sociedade sofre os efeitos da vertiginosa evolução económica e tecnológica, onde os valores morais, familiares e cívicos são, na maioria das vezes, deixados para trás, esquecidos, abandonados. É neste cenário em que o profissional de educação se move, actua, existe, tornando-se no actor principal de uma peça onde os acontecimentos sociopolíticos estão intimamente relacionados com os que ocorrem na educação
Estarão porventura questionando o motivo que me levará a divagar em torno desta temática, a reflectir sobre o complexo universo das emoções, a alongar-me, distorcendo-me, argumentando.
Há seis meses concluí uma comissão de serviços como directora de uma escola profissional. Foram dos dois anos mais intensos da minha vida, pela forma como cada dia era conseguido a pulso, pelo modo como os desafios impostos aconteciam a cada canto, muito pelas relações que se intencionalizaram, que definiram rumos, que assumiram corpo e alma e voz e luta. Todos os dias é que era o dia importante, a cada momento um fazer desfazer constante, tendo sempre em perspectiva que nada nem ninguém vive isoladamente. Acredito que cada Escola, cada Professor, cada aluno, cada contexto educativo, estará sempre ligado ao que acontece à sua volta, dependerá de uma qualquer convergência, tenderá a seguir a moda que se agiganta. Quem aqui escreve está diferente, não só porque os acontecimentos sociais e naturais me vão empurrando pelo caminho da reflexão, mas também porque as aprendizagens que fui fazendo me têm moldado, preenchido e feito procurar mais, investigar mais, observar mais e melhor.
Mas hoje, sentei-me no meu sofá, no meu porto de abrigo e assisti novamente à cena final do magnífico filme “O Clube dos Poetas Mortos”, do realizador Peter Weir, com Robin Williams e Ethan Hawke. Então, recuei seis meses. Assomou-se uma saudade tão intensa que a garganta ardeu, apertou o peito e soltou-se em fios de água quente, cavando sulcos à sua passagem dos olhos ao coração. Depois sorri. Escondi-me atrás das recordações e ali fiquei.
Nunca me esquecerei que a mim..., um dia, ofereceram-me abraços!
Aos meus parceiros de luta, aos meus alunos.
2 comentários:
adorei o texto parece um escritora a sério e entende se o sentimento e a saudade =D
Beijo
Rogério Fernandes Figueiredo
"Parece uma escritora a sério", oh Rogério... Quase, quase que apostava que a quantidade de livros que tu leste na tua vida, se contam por tantos quantas falanges existam no esqueleto humano. (e estou a ser exagerado, pois ainda temos umas 56 falanges)
Fora de brincadeira, sempre gostei de ler textos de pessoas que conheço, mal ou bem, pois activa uma essência que não existe em escritores de renome mas "fisicamente anónimos", passo a expressão.
O "sentimento e a saudade" não só se "entendem" como se passam e se sentem.
Diria até que existem alguns "escritores a sério" que se parecem à Andrea, a vir de baixo, numa escala onde mais é melhor :)
Vou certamente ler o resto e esperar por mais.
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