segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Em terra de cegos, quem tem olho é rei!


Deste lado da chuva assisto pasmada à forma como o conteúdo das campanhas Presidenciais é facilmente anulado por diferentes manobras de diversão, que vão da Casa dos Segredos ao assassinato do cronista social, Carlos Castro - com direito a detalhes sórdidos, manifestações de pesar e, surpreendentemente, de apoio, ao rapaz que proferiu o acto! Adiante que sobre isto já quase todo o mundo falou!

E como o tempo não pára, o país lá vai avançando, aos solavancos, arrepiando o caminho da crise, com o FMI à espreita, o aumento do custo de vida, o estado social em decadência e o português a ser enrolado em realidades tacanhas, fugazes, efémeras. Regra geral, vejo-o embevecido com as visitas dos apelidados de "principais candidatos" presidenciais, sem nunca produzir qualquer reflexão em torno disso, do que esses dizem, do que esses pretendem, do esses almejam para Portugal. 

Nada. Nada.

É um vazio total. Uma ausência de poder crítico. É a apatia generalizada, embandeirada. Limita-se a aclamá-los, a sorrir, a procurar beijos. 

A caravana passa e retoma-se o ritmo anterior - em cada esquina, ou café, ou porta de empresa, ou escola, a lamuria do quotidiano, do preço das coisas. Em seguida, assiste-se a um desfiar de conversa que se prende única e simplesmente com o diz que disse da vida alheia, a eliminação de concorrentes, o que aquele é ou faz ou diz ou foi! 

Uma paralisia cerebral assustadoramente avassaladora que tomou conta deste povo. É o momento pelo momento. É apenas isso que conta.

Sinto-me roubada no meu âmago e grito-vos:

Somos enganados porque queremos, porque merecemos, porque nos distraímos, porque nos esquecemos de que é feita a massa do nosso sangue! Parece que nos esquecemos dos valores culturais de liberdade, de democracia, de respeito e tolerância, e os  substituímos por valores de autoridade, obediência e intolerância.  

Seria importante olhar para o passado. Não para lá ficar agarrado a considerações nostálgicas do que foi e do que poderia ter sido, mas para podermos fazer leituras, utilizando a neutralidade que só uma visão histórica nos pode dar.   

Em terra de cegos, quem tem olho é rei! Nesta terra, será com certeza igualmente coroado pela ignorância, pelo saudosismo, pela fantasia, pela castração, pela abstenção!

É tão mais simples... deste lado da chuva.




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